segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Estação de São Bento - Iconografia

Em Portugal existe uma estação que é vista como sendo uma das mais belas do mundo, o seu aspecto exterior é baseado em parâmetros arquitectónicos franceses no entanto o seu interior é dos mais caracteristicos e marcantes daquilo que é a tradição em Portugal. 
Entre 1905 e 1906 o mais famoso ajulejador português do seu tempo, Jorge Colaço instala cerca de 550 metros quadrados de ajulejos na estação de São Bento, localizada no coraçao da cidade do Porto.
Ao longo dos tempos esta estação tornou-se um ícone daquilo que é a arte do ajulejo português, possuindo um alto valor histórico e iconografico.
O interior desta estação possui três temas distintos: o primeiro são cenas de feitos históricos, acontecimentos e tradições existentes no norte de Portugal, o segundo é a representação de estações do ano, áreas do saber e sectores económicos atravéz de alegorias, e por fim o terceiro é um gigante friso em ajulejo colorido que precorre todo o perímetro da estação representando a evolução dos transportes terrestres em Portugal.
Estação de São Bento - Vista exterior

Estação de São Bento - Interior
Para a representação iconografica que se apresenta a seguir foi utilizado um modelo 3d da estação de São Bento localizado em http://sketchup.google.com/3dwarehouse/details?mid=72d633a9827edda444423c2cb1008c2&prevstart=0 , sendo apresentados em baixo várias fotos dos paineis de ajulejos da estação com a respectiva identificação iconográfica:


I - Conquista de Ceuta

II - Entrada de D. João I com Filipa de Lencastre na cidade do Porto
III - Entrega de Egas Moniz
IV - Torneio de arcos de Valdevez
V - Promessa      VI - Fonte dos milagres
VII - Procissão de nossa senhora dos remédios
VIII - Transporte do vinho no rio Douro
VIX - Colheita das uvas
X - Moinho no Douro
XI - A ceifa
XII - Assadeira das castanhas e feira de gado
XIII - Romaria de São Torcato
XIV - Alegoria ao comercio, belas artes e literatura
XV - Alegoria ao Inverno e ao Outono
XVI - Alegoria ao Verão e à Primavera
XVII - Alegoria à musica, agricultura e industria
Evolução dos transportes - Transportes romanos
Evolução dos transportes - Transportes romanos
Evolução dos transportes - Invasões bárbaras
Evolução dos transportes - Transportes muçulmanos
Evolução dos transportes - Transportes sec. XVI e XVII
Evolução dos transportes - Transportes sec. XVII e XIII
Evolução dos transportes - Transportes sec XVIII
Evolução dos transportes - Transportes sec. XIX
Evolução dos transportes - Transportes sec. XIX
Evolução dos transportes - Transportes sec. XIX
Evolução dos transportes - Chegada do primeiro comboio ao Douro (1875)


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Akhenaton - O faraó monoteísta

Falar de monoteísmo no Egipto antigo pode parecer á primeira vista algo muito erróneo para se fazer, no entanto a história do antigo Egipto não é assim tão linear quanto parece.
Estávamos no ano de 1353/1351 AC quando Amenófis III morreu deixando instalado no Egipto uma desordem politica a nível internacional, contudo a cidade de Tebas continuava a ser uma capital rica e com um clero bastante poderoso tendo por base o deus tebano Amon.
Akhenaton ("o servidor de Aton")
O filho de Amenófis III sobe ao poder com o nome de Aménofis IV (significando Amon esta satisfeito), este será o faraó que irá criar o pensamento monoteísta.
Aménofis IV começa ao longo do seu reinado a introduzir de uma forma cada vez mais radical um pensamento que provavelmente já estaria a ser introduzido no reinado de seu pai, sob a influencia de sua mãe a rainha Tiyi, este pensamento centra-se na elevação do deus Aton a deus único, criador de toda a vida todo-poderoso,…. Aton que até á época simbolizava apenas o disco solar passa agora a estar no topo do panteão egípcio como o único Deus.
O objetivo de Aménofis seria o de tornar o divino acessível a todas as pessoas, uma vez que o faraó acreditava na igualdade de todos os seres vivos. 
O que aconteceu foi que encontrou, como seria de esperar, uma forte pressão e oposição do clero de Amon que até aquela altura era o cento religioso do Egipto. É com esta hostilidade que o faraó reafirma a sua posição rejeitando os outros deuses e também mudando o seu nome para Akhenaton ("o servidor de Aton").
Akhenaton tinha como esposa a famosa rainha Nefertiti, com a qual se mudou para a recém criada cidade de Amarna. Nesta cidade consagrada a Aton, o faraó ergue um templo no seu centro totalmente aberto á luz solar. a nova cidade de Amarna tinha também um palácio oficial, um palácio de recreio, edifícios administrativos, bairros habitacionais e oficinas de vários artistas da época.
Com toda esta revolta em torno da sociedade e da religião egípcia a arte teve também uma transformação profunda sendo que neste período tem o nome de arte amarniana. 
Na arte amarniana tem lugar o natural e a representação de tudo aquilo que era intimo de uma forma mais natural, como por exemplo a representação de Akhenaton e Nefertiti a beber e comer durante um banquete ou então a representação do faraó de uma forma caricatural uma vez que este aparece varias vezes de uma forma "assexuada", apresentando rosto longo, lábios grossos, ancas alongadas,…. Esta forma revolucionária de representação do faraó tinha também origem religiosa uma vez que o faraó é a manifestação divina na terra e agora o deus Aton, é um deus uno, ele passa a representar tanto o masculino como o feminino.
Após a morte do faraó, a cidade de Amarna e a reforma religiosa fracassou como seria de esperar devido á oposição do poderoso clero de Tebas que defendia o panteão egípcio na sua totalidade, no entanto o que este faraó deixou á humanidade foi o pensamento na existência de um só Deus, conceção religiosa que viria a renascer e a perdurar durante milhares de anos.
Para terminar deixo apenas algumas comparações entre o hino ao deus Aton que Akhenaton escreveu com o propósito de converter o Egipto ao monoteísmo e o Salmo 104 da Bíblia cristã, que parece ter origem no Hino escrito pelo faraó:

Excertos do Hino a Aton:                          Excertos do Salmo 104:

Aton do dia, grande majestade                 Senhor....estas revestido de esplendor e majestade

Todos têm comida                                   Fazes germinar ervas...para que da terra possa tirar o teu alimento

Eles estão escondidos do rosto                Se deles escondes o rosto...

Oh único Deus, como tu não há outro!     Senhor, como são grandes as tuas obras!

Senhor de todas as Terras...                    A Terra está cheia de tuas criaturas!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Trono de Dagoberto

Dagoberto I foi o ultimo dos reis merovíngios a exercer poder, nasceu em 604 e morreu em 639, tornando-se um rei respeitado em todo o ocidente após conseguir a união da Aquitânia e Borgonha (actual França) embora que por pouco tempo.
Como todo o rei precisa de um trono, este não foi excepção á regra e deixou-nos uma das mais importantes peças do mobiliário francês, o trono de Dagoberto.
A história deste trono encontra-se cheia de especulações sendo que algumas das suas partes constituintes são de data incerta. O trono é todo ele concebido e cinzelado em bronze exibindo quatro panteras que formam as pernas, braços com rosetas e motivos naturais e encosto triangular decorado com círculos.
Todos estes elementos constituintes do trono de Dagoberto exibem uma profunda minúcia na moldagem do bronze,  contudo o que torna este trono especial é o facto para o qual André Saglio nos chama a atenção no seu livro "french furniture". A particularidade apontada por André Saglio está em que apesar deste trono pertencer a um rei merovíngio, cujos antepassados derrotaram os exércitos romanos, este exibe grandes traços culturais romanos. A forma base presente no trono, se lhe retirarmos o encosto e os braços é "sella curulis" amplamente utilizada durante o império romano como símbolo de riqueza e poder, também de notar as pernas em forma de pantera relembrando um estilo mais clássico, revelando assim que ao contrário do que muitas vezes se pensa parte da cultura e luxo romano foi posteriormente adoptado pelos povos bárbaros após a  saída dos romanos de todo aquele vasto território ao qual hoje se chama França.
Este trono torna-se assim um dos maiores exemplos, se não o maior, da adaptação bárbara do estilo latino.
Entre os seus utilizadores estão Dagoberto I,  um padre que celebrava a missa na basílica de Saint-Denis e Napoleão I. Para quem quiser ver esta obra de arte ao vivo ela encontra-se desde 1791 na biblioteca nacional de França no Cabinet des Médailles, na rue de Richelieu.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Em análise: Hotel des Invalides

Nas margens do rio Sena em Paris está localizada uma das obras mais marcantes do período barroco francês, o majestoso hotel dos inválidos ou hotel des invalides que como o nome indica foi construído para albergar os soldados inválidos da guerra.
A primeira parte desta obra foi iniciada em 1671 por ordem do rei Luís XIV e confiada ao arquitecto Libéral Bruant que construiu o primeiro hospital militar e albergue francês para mutilados e incapacitados, que sem esta construção teriam o infeliz destino de acabar a sua vida na miséria a pedir esmola.
O edifício de Bruant foi aberto em 1675 e detém uma das fachadas clássicas mais notáveis da arquitectura francesa estendendo-se ao longo de cerca de 200 metros, fachada esta coroada com janelas mansarda exibindo diferentes troféus. Esta primeira parte do edifício remonta para várias características presentes em grandes obras de carácter hospitalar e conventual como é o caso da Ospedale Maggiore em Milão.
Após a conclusão desta primeira parte os trabalhos foram delegados ao famoso arquitecto Jules Hardoin-Mansart que em 1676 inicia a segunda parte e também a mais espectacular de todo o complexo do Hotel dos Invalides, a famosa igreja dos invalides.
Hotel des Invalides - Fachada de Bruant
Esta segunda parte apesar de ser chamada de “a igreja” é de facto constituída por duas construções distintas a igreja de St-Louis-des-Invalides também chamada de "igreja dos soldados" e a mais imponente a Dôme des Invalides.
A igreja dos soldados foi construída por Mansart a partir de antigos desenhos de Bruant e denota um aspecto severo e imponente, de plano alongado podendo ser comparada a um coro conventual, esta foi construída para os pensionistas do hotel e tem o seu altar adoçado á Dôme através de uma parede de vidro.
Ao entrar na Dôme qualquer visitante se apercebe que se encontra no apogeu de todo o complexo dos Invalides , a Dôme de Mansart fora mandada edificar pelo rei sol como uma igreja para uso particular do rei e da sua família. A sua função final seria também a de constituir um panteão nacional, passando a ser o mausoléu dos Bourbons, com a transferência deste de Saint-Denis para a nova Dôme des invalides.
A nível arquitectónico vemos que Mansart tem uma inspiração fortemente apoiada na basílica de São Pedro em Roma recriando vários elementos desta que vão  desde uma ligeira aproximação da cúpula de São Pedro á utilização de um baldaquino na separação das duas igrejas ou até mesmo na praça que deveria completar o projecto com duas alas laterais que nunca fora executada. Talvez o que torne esta obra tão única seja o facto de apesar de ter uma forte influência pelo barroco italiano de Brenini e Borromini apresente um carácter muito particular do barroco, tão particular que é chamado de estilo clássico francês.
O que torna a Dôme a obra máxima do clássico francês é o seu distanciamento do barroco italiano através de uma certa aparência mais severa e imponente, apresentando um primeiro piso algo simples que se vai intensificando á medida que sobe até culminar no frontão, sendo este coroado pela magnifica cúpula em tambor variando os contrafortes aos pares. A cúpula em si exibe gigantescos troféus dourados acentuados pela torre em lanterna, também esta dourada.
O interior não é menos espectacular que o exterior, sendo a sua planta em cruz dividida em varias capelas laterais, tendo também a sua influência italiana misturada com o gosto clássico francês marcado através de uma certa severidade tal como no exterior. De notar na cúpula um dos pormenores mais interessantes do complexo, o facto de a cúpula ser dividida em duas uma com abertura para outra mais alta pintada, pormenor este que pode até passar despercebido para o observado mais distraído.
Devido a problemas financeiros o complexo foi acabado tardiamente já no inicio do século XVIII e após a morte do rei a ideia de sepultar os membros da família real foi abandonada.
 
Dôme des Invalides - Igreja de Mansart
 
Cúpula interior da Dôme des Invalides


Após a sua construção uma grande transformação vir-se-ia a dar já no século XIX no ano de 1840 quando o rei Luís Filipe ordenou que os restos mortais de Napoleão Bonaparte fossem transferidos para Paris, deste modo o seu túmulo foi colocado na cripta debaixo da cúpula da Dôme. Com a vinda do túmulo de Napoleão o edifício foi sendo alterado, recebendo cada vez mais túmulos de Homens de ilustres ligados às armas, politica e engenharia entre eles Fonch, Joseph Bonaparte, Vauban, … 
Túmulo de Napoleão Bonaparte e o badalquino no canto superior direito


Mais tarde após a segunda grande guerra o edifício remontou á sua utilização inicial que perdurou até aos dias de hoje, a de um hospital militar para veteranos.
Para finalizar recomendo que numa visita a Paris para além  da visita obrigatória ao complexo da Dôme des Invalides onde podem ser vistos todos estes pormenores arquitectónicos e túmulos dos mais importantes génios militares franceses se faça um passeio pelos jardins onde podem ser apreciados vários exemplos de canhões dos séculos XVII e XVIII, e também visite o Musée de l'Armée dedicado á historia militar contendo uma imponente colecção de armaduras, também instalado no edifício dos invalides.
Promenor da cúpula interior