terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Em análise: Hotel des Invalides

Nas margens do rio Sena em Paris está localizada uma das obras mais marcantes do período barroco francês, o majestoso hotel dos inválidos ou hotel des invalides que como o nome indica foi construído para albergar os soldados inválidos da guerra.
A primeira parte desta obra foi iniciada em 1671 por ordem do rei Luís XIV e confiada ao arquitecto Libéral Bruant que construiu o primeiro hospital militar e albergue francês para mutilados e incapacitados, que sem esta construção teriam o infeliz destino de acabar a sua vida na miséria a pedir esmola.
O edifício de Bruant foi aberto em 1675 e detém uma das fachadas clássicas mais notáveis da arquitectura francesa estendendo-se ao longo de cerca de 200 metros, fachada esta coroada com janelas mansarda exibindo diferentes troféus. Esta primeira parte do edifício remonta para várias características presentes em grandes obras de carácter hospitalar e conventual como é o caso da Ospedale Maggiore em Milão.
Após a conclusão desta primeira parte os trabalhos foram delegados ao famoso arquitecto Jules Hardoin-Mansart que em 1676 inicia a segunda parte e também a mais espectacular de todo o complexo do Hotel dos Invalides, a famosa igreja dos invalides.
Hotel des Invalides - Fachada de Bruant
Esta segunda parte apesar de ser chamada de “a igreja” é de facto constituída por duas construções distintas a igreja de St-Louis-des-Invalides também chamada de "igreja dos soldados" e a mais imponente a Dôme des Invalides.
A igreja dos soldados foi construída por Mansart a partir de antigos desenhos de Bruant e denota um aspecto severo e imponente, de plano alongado podendo ser comparada a um coro conventual, esta foi construída para os pensionistas do hotel e tem o seu altar adoçado á Dôme através de uma parede de vidro.
Ao entrar na Dôme qualquer visitante se apercebe que se encontra no apogeu de todo o complexo dos Invalides , a Dôme de Mansart fora mandada edificar pelo rei sol como uma igreja para uso particular do rei e da sua família. A sua função final seria também a de constituir um panteão nacional, passando a ser o mausoléu dos Bourbons, com a transferência deste de Saint-Denis para a nova Dôme des invalides.
A nível arquitectónico vemos que Mansart tem uma inspiração fortemente apoiada na basílica de São Pedro em Roma recriando vários elementos desta que vão  desde uma ligeira aproximação da cúpula de São Pedro á utilização de um baldaquino na separação das duas igrejas ou até mesmo na praça que deveria completar o projecto com duas alas laterais que nunca fora executada. Talvez o que torne esta obra tão única seja o facto de apesar de ter uma forte influência pelo barroco italiano de Brenini e Borromini apresente um carácter muito particular do barroco, tão particular que é chamado de estilo clássico francês.
O que torna a Dôme a obra máxima do clássico francês é o seu distanciamento do barroco italiano através de uma certa aparência mais severa e imponente, apresentando um primeiro piso algo simples que se vai intensificando á medida que sobe até culminar no frontão, sendo este coroado pela magnifica cúpula em tambor variando os contrafortes aos pares. A cúpula em si exibe gigantescos troféus dourados acentuados pela torre em lanterna, também esta dourada.
O interior não é menos espectacular que o exterior, sendo a sua planta em cruz dividida em varias capelas laterais, tendo também a sua influência italiana misturada com o gosto clássico francês marcado através de uma certa severidade tal como no exterior. De notar na cúpula um dos pormenores mais interessantes do complexo, o facto de a cúpula ser dividida em duas uma com abertura para outra mais alta pintada, pormenor este que pode até passar despercebido para o observado mais distraído.
Devido a problemas financeiros o complexo foi acabado tardiamente já no inicio do século XVIII e após a morte do rei a ideia de sepultar os membros da família real foi abandonada.
 
Dôme des Invalides - Igreja de Mansart
 
Cúpula interior da Dôme des Invalides


Após a sua construção uma grande transformação vir-se-ia a dar já no século XIX no ano de 1840 quando o rei Luís Filipe ordenou que os restos mortais de Napoleão Bonaparte fossem transferidos para Paris, deste modo o seu túmulo foi colocado na cripta debaixo da cúpula da Dôme. Com a vinda do túmulo de Napoleão o edifício foi sendo alterado, recebendo cada vez mais túmulos de Homens de ilustres ligados às armas, politica e engenharia entre eles Fonch, Joseph Bonaparte, Vauban, … 
Túmulo de Napoleão Bonaparte e o badalquino no canto superior direito


Mais tarde após a segunda grande guerra o edifício remontou á sua utilização inicial que perdurou até aos dias de hoje, a de um hospital militar para veteranos.
Para finalizar recomendo que numa visita a Paris para além  da visita obrigatória ao complexo da Dôme des Invalides onde podem ser vistos todos estes pormenores arquitectónicos e túmulos dos mais importantes génios militares franceses se faça um passeio pelos jardins onde podem ser apreciados vários exemplos de canhões dos séculos XVII e XVIII, e também visite o Musée de l'Armée dedicado á historia militar contendo uma imponente colecção de armaduras, também instalado no edifício dos invalides.
Promenor da cúpula interior

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