domingo, 27 de novembro de 2011

Fado

A partir de hoje, dia 27 de Novembro de 2011 o fado é considerado patrimônio imaterial da humanidade.
A classificação como patrimônio da humanidade foi atribuída hoje pela UNESCO no entanto ao longo dos tempos sempre foi patrimônio de todos nós. Deixo apenas um poema intitulado "Coroação" em homenagem a toda a cultura portuguesa, em especial atenção ao fado.

A igreja está pronta,
E santo António abriu as portas para entrares
Os 196 esperam ansiosamente
As guitarras tocam nos altares

Guiada pelas tágides entras,
vestida de saudade e vitória
De norte a sul o povo grita:
Cultura! Hoje és glória

Linda e moça recebes a coroa,
à tua espera desde tempos incertos
O desconhecido foi rasgado pela tua proa
E conhecidos ficaram campos e desertos

Tristeza! Saudade! Lembrança!
Foste Amor De Outrora
Hoje apenas és esperança
Vitória! E 7 biliões de aplausos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sala das merendas

No palácio nacional de Queluz encontra-se uma das salas mais emblemáticas do rococó português, a sala das merendas.
Sala das merendas
A sala das merendas foi concluída em 1767 de planta quadrada e dimensões pequenas tinha como função proporcionar um ambiente mais recatado para refeições da família real.
Do ponto de vista artístico o chão é em madeira de parquet lembrando muito os motivos utilizados na França daquela época, em especial atenção aos motivos utilizados no palácio de Versalhes, não é a toa que este palácio é chamado o Versalhes português. As paredes apaineladas ou como dizem os franceses em boiserie exibem motivos em estilo rococó com cores onde predominam o verde claro o branco e o dourado materializado na folha de ouro aplicada na pasta de papel.
Sobre as portas encontram-se seis telas onde estão pintadas naturezas mortas chamando a atenção para a função desta sala. Também evidenciando a função desta sala de jantar privada estão entre as paredes apaineladas quatro grandes telas onde se encontram pintados nobres que na sua pausa de caça se entregam aos prazeres da gastronomia participando em merendas de caça. Estas quatro telas claramente ao gosto rococó e como não poderiam deixar de ser, são uma grande alegoria onde estão representadas as quatro estações do ano facilmente identificáveis através das cores e vegetação envolventes.
A coroar esta sala encontra-se o tecto com uma forma simples e hexagonal repetida inúmeras vezes sugerindo favos de mel, no interior destas formas rosas douradas permitem uma maior beleza e harmonia a todo o espaço envolvente.
Pormenor do tecto da sala das merendas

Tela da alegoria do verão
Para quem viver perto ou estiver a pensar em viajar para Lisboa escusado será dizer que ao vivo tudo ganha uma maior amplitude e magnificência. Contudo para quem não tiver essa oportunidade deixo aqui um link (http://sketchup.google.com/3dwarehouse/details?mid=8689c4591280429ec375d8dfa24c19ea&prevstart=0) onde parte deste património artístico se encontra modelado em 3d permitindo até para quem tiver o programa sketchup caminhar dentro desta jóia do rococó português.
Com tanta arte e beleza concentrada em apenas uma sala é caso para dizer viva o rococó.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Em análise: Bosch, As tentações de Santo Antão

Para quem ainda não conhece, as tentações de Santo Antão é um tríptico que está actualmente exposto no museu de arte antiga em Lisboa capaz de fazer inveja a qualquer museu europeu. O seu autor é o pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516) cujo nome herdou da sua cidade natal s-Hertogenbosch, existindo poucos documentos acerca deste pintor pensa-se que terá vivido toda a sua vida na sua cidade natal. Bosch é considerado por muitos o último e melhor pintor medieval e o primeiro pintor a utilizar o fantástico nas suas obras, facto este que leva a especular como sendo o seu trabalho uma das fontes impulsionadoras do surrealismo no século XX. Apenas cerca de 40 obras de Bosch chegaram aos nossos dias estando as mais importantes expostas em Madrid, Paris, Viena e Lisboa, entre elas claro as tentações de Santo Antão.

As tentações de Santo Antão
As tentações de Santo Antão é uma obra composta por cinco painéis, dois destes exteriores, um central, um esquerdo e um direito.
Esta obra retrata um episódio da vida de santo Antão em que este após ter distribuído toda a sua riqueza pelos pobres, foi viver para o deserto onde foi tentado pelo demónio, permanecendo sempre fiel a Cristo, alem de retratar este episódio esta obra está repleta de simbolismo podendo também ser considerada uma crítica social.
No painel esquerdo exterior está representado uma cena da paixão de Cristo em que Jesus é preso e levado pelos soldados, no painel direito também numa passagem da paixão Cristo, Jesus carrega a cruz sendo acompanhado por santa Verónica que se encontra ajoelhada a seus pés estendendo-lhe um lenço.
No painel esquerdo pode ser observada a primeira parte das tentações de santo Antão sendo este conduzido ora por demónios materializados no céu sobre o santo ora por religiosos que o amparam na passagem da ponte de madeira, em baixo da ponte três figuras demoníacas lêem cartas que lhes chegam por outro demónio que patina sobre o gelo, na parte direita do quadro vemos três figuras do clero, que são de facto demónios a entrarem num bordel cuja entrada é um homem ajoelhado de costas.
No painel direito encontra-se santo Antão ao pé duma árvore, nesta árvore coberta com um manto vermelho encontra-se uma figura feminina que tenta seduzir e despertar a atenção de santo Antão, este sentado á direita desvia o seu olhar para uma mesa onde criaturas tentam aliciar o santo com comida e bebida. Já no plano de fundo encontra-se uma muralha ser invadida enquanto apenas um cavaleiro luta contra criaturas monstruosas.
No painel central, uma igreja em ruínas no centro desvia o olhar do observador sendo este o único lugar do quadro onde não existem demónios, lá dentro da igreja está a figura de Cristo a fazer o gesto da bênção, gesto este repetido pelo santo que se encontra ajoelhado no exterior do edifício. Em redor desta cena do meio habitam seres demoníacos tanto nos ares como em terra, até em volta do santo aquilo que parece ser uma celebração eucarística da nobreza está transformado numa concentração de pessoas cuja sua outra parte é uma criatura demoníaca. No plano de fundo do lado direito encontra-se uma habitação nobre coroada com uma prostituta e do outro lado uma aldeia em chamas.
Esta magnifica obra poderá ter duas interpretações tanto do ponto de vista da crítica social como do ponto de vista religioso, do ponto de vista religioso narra a situação e obra de vida de santo Antão quando foi viver no deserto.
Já do ponto de vista de critica social se repararmos bem no centro do painel central vemos a imagem de Cristo em gesto de bênção como que a abençoar todos os intervenientes daquela cena porem apenas santo Antão lhe responde fazendo o mesmo gesto, isto dá-nos uma imagem muito forte de como apenas poucas pessoas do ponto de vista do pintor poderiam ser consideradas devotas e crentes em Cristo.
Outro factor a ter em conta é a igreja que se encontra em ruínas e vazia apenas com Cristo no seu interior símbolo de degradação e afastamento religioso pois embora esteja a decorrer uma eucaristia esta é no seu exterior se por seres que ora parecem nobres ora demónios, representando que estes embora frequentem a igreja pouco ou nada a respeitam.  
Ao fundo desta igreja no painel central está uma aldeia a arder enquanto que a residência nobre tem no seu cimo uma prostituta, já no painel esquerdo membros do clero frequentam um bordel enquanto que no direito uma cidade é atacada numa muralha, isto tudo indica mais uma vez que embora a sociedade se diga muito religiosa e viva em torno da fé cristã esta é uma falsa fé pois é uma sociedade que frequenta prostituição sendo até capaz de praticar a guerra de modo a obter beneficio próprio. O céu sendo um lugar simbólico onde deveriam aparecer criaturas do bem está adornado por demónios que como se estivessem em festa sobrevoam e apreciam todo o espectáculo.
De uma pintura muito meticulosa criou Bosch esta espectacular obra como forma de lembrar qual o caminho que na sua altura se achava ser o certo de modo a obter salvação após morte afirmando também que demónios podem habitar em qualquer lado desde a alta nobreza ás diferentes pessoas que fazem parte do clero e se deixam tentar por este.
Obra esta de percurso incerto não se sabendo como chegou a Portugal e em que circunstâncias, encontra-se actualmente no museu de arte antiga de Lisboa, para ser apreciada e vista como um exemplo de como uma critica social medieval pode ainda hoje em dia ser aplicada. Para quem ainda não a viu ao vivo com todas as cores e todos os pormenores dignos de se apreciar na pintura de Bosch aconselho a visita ao museu de arte antiga em Lisboa, para quem for entre os dias 14 de Julho a 25 de Setembro de 2011 poderá também ter o privilégio de ver outras duas obras do universo figurativo de Bosch, uma delas da sua oficina (tríptico do Juízo final) e outra de um seu continuador (tríptico das tribulações de Job) ambas emprestadas pelo museu Groeninge de Bruges. Mas falando apenas no tríptico “As tentações de Santo Antão” ver uma obra destas ao vivo vale mesmo a pena.  


domingo, 24 de julho de 2011

Machu Picchu a descoberta com 100 anos

Foi à 100 anos no dia 24 de Julho de 1911 que uma equipa de exploradores chefiadas pelo professor e historiador Hiram Bingham (1875 - 1956) descobriam a cidade inca de Machu Picchu.
Antes desta descoberta Bingham já tinha estado nas ruínas de Choquequirao onde ouvira boatos de antigas cidades incas, perdidas na imensidão da floresta, a partir destes boatos decidiu organizar uma expedição em que atravessou o vale do Urubamba na esperança de ver os boatos contados pelos locais materializados em algum lugar. O que Bingham procurava nem era Machu Picchu mas sim a antiga cidade de Vilcabamba que teria sido o ultimo refugio dos incas durante a conquista pelos espanhóis.
Entre um embaralho de árvores, quase que perdido na floresta chegou ao alto de uma montanha onde encontrou um rapaz índio que lhe queria mostrar algo. Conduzido pelo rapaz chegou á antiga cidade de Machu Picchu que na altura se encontrava envolvida por um manto de árvores e raízes mesmo assim já se podia observar o fantástico complexo arquitectónico constituído por templos, tumbas e residências. E foi assim que á procura de Vilcabamba Bingham descobriu algo ainda mais impressionante.

Machu Picchu no ano de 1911


Hoje em dia a cidade encontra-se em grande parte reconstruída e livre de todo o arvoredo que outrora lhe cobria pensando-se que talvez fosse um refugio real, para onde o imperador inca se deslocava de tempo em tempo.
Mas quem eram os incas?
Os incas foram uma civilização que habitou na América do sul ocupando o Peru e grande parte de países como o Equador e Bolívia entre outros. Atingiram o seu apogeu no século XV quando o imperador Pachacuti conquistou todos os territórios do império.
Para se comunicarem tinham um incrível sistema de vias constituído por estradas e pontes tanto de pedra (para atravessar rios) como de cordas (para transpor vales íngremes), possuíam uma incrível organização visto que ao longo de cada estrada tinham estafetas para transmitir mensagens, estes num só dia conseguiriam percorrer cerca de 240 km.

A sua cultura era maioritariamente agrónoma obedecendo a um estrito calendário. Ao serem de subsistência agrónoma a sua religião acreditava em deuses baseados em elementos naturais como a deusa da lua e da terra sendo o mais importante dos deuses o deus sol, acreditando que os seus imperadores eram descendentes deste. No dia dos defuntos em Novembro passeavam as múmias dos seus imperadores na cidade de Cusco num cortejo que hoje em dia ainda pode ser visto não com múmias mas sim com santos cristãos.

A lamentar temos a terrível gestão espanhola das construções incas que após a sua descoberta e conquista deste território levaram quase a um desaparecimento total desta civilização. Temos que agradecer contudo o facto de gente espanhola nunca ter encontrado Machu Picchu, e deste se ter preservado ao longo dos séculos permanecendo um local arquitectónico único e testemunho de uma grande civilização.


domingo, 17 de julho de 2011

Quarta-feira, 17 de julho de 1717

Foi precisamente à 294 anos que na capital da Grã-Bretanha se realizou de forma inédita um dos maiores espectáculos da época barroca sobre as águas do rio Tamisa contando com a estreia da música aquática do compositor Handel.
Em 1717 o rei Jorge I da Grã-Bretanha devido às suas politicas e á sua idade avançada, para a época não era alguém que fosse bem visto tanto pelo governo como pela sua corte, nesta altura o importante era que um rei conseguisse ter uma boa imagem perante a sociedade e Jorge I tinha de melhorar a sua. Surge assim a ideia de um grandioso evento público em que se demonstrasse tanto a glória do rei como a cultura a arte presentes na sua corte, teria de ser algo realizado para o publico geral e que melhor sitio em Londres do que o rio Tamisa? Era um rio amplo, livre das pontes e grandes edifícios que actualmente o ladeiam fazia com que toda a Londres pudesse avistar o rio com apenas a colossal catedral de São Paulo na linha do horizonte.
Sendo assim o evento foi uma verdadeira festa barroca e consistiu na descida do rio Tamisa  desde Whitehall a Chelsea em embarcações. Uma das embarcações transportava os 50 músicos com a música aquática escrita e dirigida por Handel de propósito para esta magnifica cerimónia e outra para o rei com a sua corte.
È claro que com todo este aparato real outras pessoas principalmente nobres quiseram acompanhar o cortejo noutras embarcações, é dito que todo o Tamisa ficou coberto por um manto de embarcações que acompanhavam o cortejo majestoso, o efeito pretendido pelo rei tinha sido atingido sendo as suites de Handel tocadas três vezes durante o percurso de ida e volta e jantar em Chelsea.
Todas as suites da música aquática são baseadas em danças de origem francesa porém apresentam um forte carácter inglês, sendo a terceira destas um pouco mais intimista pensa-se que tenha sido escrita para o jantar em Chelsea.
Para uma ideia mais clara deste evento que salvou a monarquia britânica através da música de Handel em baixo:

Quadro de Edouard Jean Conrad Hamman mostrando
Handel à esquerda de Jorge I no rio Tamisa
Pintura de Canaletto de 1746 mostrando a antiga Londres
com o Tamisa coberto por embarcações


Recriação pelo English Concert da embarcação de 1717 
a tocar a musica Aquática



quinta-feira, 14 de julho de 2011

A vida de um génio renascentista



Durante o século XV a Itália iniciou um período de transformação social, cultural e económica, ficando conhecido pelo quattrocento. É neste período que se começa a notar o contraste entre a idade média e o renascimento principalmente em cidades como Florença, Milão, Veneza, Roma e Nápoles que passam a desempenhar um papel de grande importância cultural. No estilo renascentista recém formado começa-se a notar uma forte influencia de padrões clássicos há muito utilizados na antiga Grécia e Roma, é neste ambiente que surgem grandes Humanistas que irão dar voz ao renascimento e propagar a sua influencia a toda Europa, entre eles o famoso Leonardo Da Vinci (auto-retrato de 1512 em cima).

Leonardo nasceu num sábado às três da manhã do dia 15 de Abril de 1452 numa família de notários pertencente à média burguesia na comuna de Vinci próxima de Florença. O seu nome de baptismo é Leonardo di ser Piero da Vinci (Leonardo filho de Piero de Vinci), não tendo sobrenome assinava os seus trabalhos com "Leonardo" ou "Eu Leonardo". Viveu a sua infância na casa do seu pai em Vinci, que ainda hoje pode ser visitada.

No ano de 1468 muda-se para Florença com o pai e começa a pintar sendo que em 1469 entra para a oficina de Andrea verrocchio onde expande os seus conhecimentos para os ramos da pintura, escultura, arquitectura, geometria e perspectiva. Através desta oficina Leonardo acede às encomendas mais importantes da cidade nomeadamente aquelas vindas dos Médicis.

Em 1478 ainda na oficina de Verrocchio, Leonardo fica encarregue com Lorenzo Di Credi de terminar um retábulo para a catedral de Pistóia, é aqui que numa parte do retábulo pinta a anunciação, esta é a segunda versão da anunciação (hoje exposta no Louvre) pois já entre 1472 e 1475 tinha pintado uma anunciação exposta na galeria dos Uffizi (em baixo na primeira a versão de 1472-1475 e na segunda a versão de 1478).

Em 1481 realiza a primeira pintura à larga escala intitulada a adoração dos magos, foi uma obra encomendada pelos frades do Mosteiro de São Donato executada em óleo sobre madeira encontrando-se exposta em Florença nos Uffizi. A adoração dos magos ficou inacabada com a partida de Leonardo para Milão em 1482 enviado por Lourenço de Medici para Ludovico Sforza chamado de o Mouro.

Em Milão, Leonardo pinta a Virgem dos rochedos e a Dama do Arminho, mais tarde na década de 90 do século XV pinta a ultima ceia no convento de Santa Maria delle Grazie em Milão (na imagem em baixo).

Em 1500 após a conquista de Milão pela França Leonardo volta a Florença e durante um curto período trabalha como engenheiro militar sendo depois convidado a pintar a batalha de Anghiari no hoje denominado salão dos quinhentos no palazzo Vecchio.

Em 1506 partiu novamente para Milão requisitado pelo governador Charles d'Amboise, nesta temporada executa projectos de arquitectura e canalizações fez também a segunda versão da Virgem dos rochedos.

Em 1513 muda-se para Roma perspectivando encomendas do seu protector Giuliano de Médici porém não tendo sucesso aceita em 1517 o convite do rei de França Francisco I para se tornar o seu pintor, mecânico e arquitecto pessoal. É lhe concedido pelo rei Francisco I o solar de Clos Luçé (em baixo à esquerda) próximo da sua residência em Amboise, onde se fixa e vive os últimos anos da sua vida, tornando-se amigo intimo de Francisco I. Nesta altura faz investigações nas mais diversas áreas e pinta o seu quadro mais famoso a Mona Lisa (em baixo à direita).













Em 2 de Maio de 1519 com o seu amigo Francisco I a segurar a sua cabeça Leonardo morre no solar de Clos Luçé.

Tendo em conta a sua vida podemos dizer que Leonardo Da Vinci foi um verdadeiro Humanista dedicando-se à ciência, à matemática, à engenharia, à anatomia, à pintura, à escultura, à aviação, à balística, à botânica, à geologia, à cartografia e até à poesia e à musica. Bom se um Homem que faz tudo isto em 67 anos não é um génio bem poderemos estar á espera que uma lâmpada mágica nos caia do céu.

Acabo com uma citação de Giorgio Vasari, conhecido pelas suas biografias de artistas italianos que também escreveu sobre Leonardo:

"De tempos em tempos, o Céu envia-nos alguém que não é apenas humano, mas também o é divino, de modo que através do seu espírito e da superioridade da sua inteligência, possamos atingir o Céu."

Giorgio Vasari

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Antigo Egipto: Construção e arquitectura

A primeira imagem que muitas pessoas têm quando se fala do antigo egipto é o de um local na antiguidade cujas pessoas trabalhavam e viviam apenas com o fascinio pela vida após morte, criando um mundo para os mortos através da construção de piramides, tumulos, "fabricando" mumias, etc. É certo que tudo isto fazia parte porém o antigo egipto é muito mais do que um grupo de sacerdotes a enfaixar mortos em ligaduras brancas, o que nos leva a pensar isso é que hoje em dia quem visita o Egipto apenas vê um conjunto de templos, palácios e tumulos isto porque se reparar-mos todos estes edificios são construidos em pedra, o que lhes permitiu manterem-se em pé por muitos milhares de anos. Mas afinal onde é que os egipcios viviam? onde trabalhavam? Como seria uma cidade egipcia à 3000 anos? A resposta a estas questões é dada atravéz de miniaturas de edificios frequentemente encontrados em tumulos (à direita um exemplo), estas miniaturas mostram cenas quotidianas apartir das quais se pode ter uma perfeita noção da realidade corrente no antigo egipto. O antigo egipto era acima de tudo um povo que vivia graças á agricultura e á pecuária, fortemente influenciado pela zona fértil do Nilo. Se fosse possivel descer este rio à 3000 anos seria possivel ver todo um conjunto de edificios quotidianos que formavam cidades com milhares de habitantes, estes edificios como nos são mostrados nas miniaturas egipcias são ecensialmente:

  • Oficinas com várias divisões cada uma com a sua especialidade (pedreios, carpinteiros, ...);

  • Casas com telhados planos acessiveis atravéz de uma escadaria exterior;

  • Casas com vários pisos;

  • Pátios interirores a habitações murados;

  • Lagos repletos de sicómoros (género de planta);

  • Abrigos assentes em estacas para proteger por exemplo as manadas de vacas do sol escaldante;

O que aconteceu foi que todos estes edificios desapareceram com os milhares de anos pois eram construidos ecensialmente de materiais menos nobres que a pedra sendo assim mais baratos e possiblitando uma melhor refrigeração interior portegendo os habitantes do calor do egipto porém mais frágeis. Estes materiais vão desde a madeira, esteiras de junco, betão, tijolo cozido, e tijolo de lama seco ao sol. Muitos destes materiais ao detioraren-se formaram uma camada espessa de lama criando nas cidades egípcias um género de amontoado de terras a que os árabes chamam tells.


Falando ainda deste tipo de construção quotidiana, aqueles edificios que para mim são os mais impressionantes são sem dúvida as casas com vários pisos, No antigo egipto algumas casas para aquela altura poderiam muito bem ser consideradas de arranha céus por terem vários andares, os arqueólogos comparam muito estas casas ao tipo de casas típicas do Iemen, dizendo que ambas tinham fortes semelhanças, em baixo á esquerda surge representada uma dessas construcções no Iemen.

















Falando nos templos, tendo este conheçimento sobre a construção quotidiana podemos compreeender muito melhor a construção de pedra do antigo egipto. Toda a construção de pedra no antigo egipto é fortemente influençiada pela construção quotidiana. Desde os Templos aos tumulos é possivel ver colunas de pedra com a forma de materiais usados na arquitectura quotidiana que aqui passam apenas a ter uma função decorativa e natural, estes materiais naturais agora "petrificados" têm a forma de palmeiras unidas, esteiras de junco, flores de lotus,....


Para realçar esta relação entre as duas arquitecturas vou dar o exemplo dos pilones. Os pilones são nada mais do que aquelas estruturas monumentais caracteristicas da entrada dos templos egipcios (em cima á direita rodeado a vermelho). Se reparar-mos bem estas estruturas têm as paredes que em vez de rectas são inclinadas ao aproximarem-se do chão, este é um traço típico da arquitectura de tijolos pois com um edificio em tijolo de lama uma parede ao aproximar-se do chão vai ficar inclinada pois as leis estáticas assim o ditam.


Concluimos assim que a construção monumental do antigo egipto não pode viver sem a construcção mais quotidiana, que está profundamente enraizada nos hábitos e costumes de uma população agrícola que conseguiu construir uma das maiores civilizações que alguma vez existiu e deste modo uma base para a nossa civilização. Criando métodos constructivos e desenvolvendo a agricultura e pecuária dão um forte de desenvolvimento no proçesso de evolução da Humanidade, deste modo digo eles não fizeram o mundo dos mortos, mas sim o dos vivos.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Frida (A guerreira do México)

"Espero que a minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar". Com esta frase anotada no seu diário acabou Frida khalo por morrer no dia 13 de julho de 1954, perdendo o mundo uma das maiores pintoras de sempre, frase esta que aponta como um possivel suiçídio levado a cabo pela pintora de modo a acabar com uma vida de sofrimento, quer por o seu casamento infeliz com Diego Rivera, quer pela sua saúde debilitada.

Frida Khalo nasceu a 6 a Julho de 1907 em Coyoacán, no México, embora afirme ter nascido em 1910 no ano da revolução mexicana, desde muito cedo teve complicações com a sua saúde e aos 18 anos teve um terrível acidente rodoviário que quase a vitimou. Porém apesar de tudo isto, procurou sempre demonstrar uma fúria em viver a vida ao máximo, tendo começado a pintar tardiamente após o seu acidente.

Em 1928 conheçe o pintor de murais Diego Rivera, com quem se casa e vive um casamento recheado de infidelidades, o que a levou a reforçar o sofrimento retratado nas suas telas.

Como pintora do início do seculo XX procura adaptar cenas do quotidiano às suas telas especialmente cenas da sua vida, por esta razão vemos nas suas telas auto retratos surrealistas cheios de sofrimento como em "coluna partida", quadro este que caracteriza bem a relação da pintora com o seu estado de saúde. Porém esta pintora tentou contornar até ao fim as advercidades vividas através de pinturas em que caracterizava a posição do seu país em relação ao mundo exterior bem como os prazeres da vida retratado em baixo na primeira tela "viva la vida". Dos seus autoretratos mais famosos destaca-se um dos seus primeiros em baixo á direita.

Resta-me recomendar o espetacular filme "Frida" de Julie Taymor para se perceber melhor toda uma vida de uma das melhores pintoras que o mundo já teve.
Enfim o que podemos chamar a uma pessoa que mesmo doente ao fim da sua vida, sem poder sair da própria cama, se desloca nesta para completar o seu sonho, uma exposição na sua terra natal?
Eu chamo-lhe guerreia do México.









sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Em Análise: Estátua do Infante D. Henrique

Hoje decidi escrever um pouco sobre a estátua do Infante D. Henrique, situada na praça com o mesmo nome na baixa da cidade do Porto.
Esta estátua homenageia aquele que foi o impulsionador dos descobrimentos, possibilitando assim a descoberta de um novo mundo até então desconhecido, e iniciando a transição da idade média para o renascimento português. O infante D. Henrique nasceu no Porto, na actual casa do infante a 4 de Março de 1394, impulsionou os descobrimentos tendo-os iniciado na conquista de Ceuta em 1415, morreu em 1460, tendo sido um dos Portugueses mais notáveis e uma das pessoas que mais contribuiu para o desenvolvimento do mundo na sua época.
Falando da estátua, esta tem como materiais principais o bronze e a pedra branca (pouco utilizada nesta cidade), tendo um conjunto de figuras alegóricas encimadas por a estátua do infante. Neste monumento embora os bronzes tenham sido concebidos na cidade de Paris, todo o conjunto é da autoria do escultor Tomás Costa e foi inaugurado no ano de 1900, durante a Belle Époque, razão pela qual todas as alegorias estão representadas com um aspecto mais neoclássico.
Para melhor interpretar esta estátua encontra-se ao lado direito um diagrama colorido do monumento com as suas secções principais.



Assim na parte de traz do monumento pode-se ver a representação alegórica da fé (a azul no diagrama) erguendo na mão direita uma cruz e com os pés sobre o globo terrestre pisando um dragão, esta alegoria não está associada a nenhuma derrota do FCP mas sim á expansão da fé cristã pelo mundo, acrescentando ainda a vitória sobre a ignorância e o medo que o mar até á época dos descobrimentos representava.
A cor-de-rosa no diagrama está a representação do brasão português, brasão este que tem duas representações no monumento uma á frente e outra na parte de traz.
A vermelho, está um conjunto de brasões com a cruz de Cristo que se repete ao longo de todo o monumento, cruz esta muito utilizada também nas naus dos descobrimentos.
A parte a laranja representa dois frisos encontrando-se um á frente e outro na parte traseira do monumento, podendo-se observar no friso da frente a partida de naus de Portugal, e no friso de traz a chegada de naus a outros territórios além mar.
A verde estão no diagrama elementos decorativos alusivos ao período manuelino com decorações de âncoras, encimados por quatro escudos de Portugal a cima a cor alaranjada. Por ultimo a amarelo, claro o infante D. Henrique com o globo terrestre na mão esquerda e apontando com a mão direita para o oceano, indicando os territórios além-mar, mesmo a seus pés estão as datas mais significativas desta altura entre elas 1415 (conquista de Ceuta, onde o infante foi armado cavaleiro).
Para terminar a análise deste monumento não se pode esquecer da parte frontal que exibe uma exuberante nau, puxada por dois cavalos ladeados de duas formas humanas proclamando as vitórias marítimas de Portugal. Sobre a nau, uma figura feminina sentada num trono segurando na mão direita a bandeira de sua pátria e na mão esquerda aquilo que parece ser os louros, não em coroa mas sim numa forma esguia apontando o caminho para os territórios do novo mundo não deixando de lado o simbolismo da coroa de louros mas sim reforçando-o.
Acabo assim esta minha interpretação de um monumento a um Infante que não vem nos livros de história dos EUA, e que se calhar nem 90% dos brasileiros o conhecem, mas que sem ele não haveria batatas na Europa, nem arranha céus nas cidades americanas, e tudo aquilo que conhecemos por Copacabana, Times Square ou até Taj Mahal não passaria de uma ilusão.